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 A Escravidão na Amazônia


 The New York Times, March 26, 2002

 

Xinguara(PA) - Os recrutas se reúnem na rodoviária desta cidade suja na fronteira da Amazônia, à espera dos pobres e desesperados. Quando avistam algum, prometem emprego estável, bom salário, moradia grátis e muita comida. Um simples aperto de mãos sela o acordo.

Para muitos, é o começo de uma vida na escravidão. Somente depois que embarcam nos caminhões velhos que os levam para trabalhar com o corte de madeira ou manejo de gado em meio à selva é que descobrem estar afundados em dívidas, vigiados por homens armados e sem condições de fugir do local de trabalho.

''Foram 12 anos até que finalmente consegui escapar e retornar para casa'', contou Bernardo Gomes da Silva, 42 anos. ''Éramos forçados a começar a trabalhar às seis da manhã e continuávamos às vezes até onze da noite'', relatou. ''Nunca fui pago, porque sempre alegavam que eu devia dinheiro''.

Entrevistado recentemente em sua cidade natal, Barras, cerca de 970 quilômetros a leste de Xinguara, Gomes da Silva disse que os trabalhadores que causavam problemas, especialmente aqueles que pediam seu pagamento, às vezes eram simplesmente mortos.

''Não sei ler, e talvez por isso eu tenha recebido ordens de queimar meia dúzia de documentos de identidade e carteiras de trabalho de trabalhadores que vi pela última vez na estrada, supostamente indo embora'', disse ele. ''Também encontramos pilhas de ossos na selva, mas nenhum de nós nunca tocou no assunto''.

O Brasil foi o último país na América a abolir a escravidão, em 1888, e o trabalho forçado de negros e brancos continuou durante o século 20 em algumas áreas rurais. Mas as autoridades governamentais admitem que, apesar dos esforços federais anunciados há 7 anos, continuam a surgir ''formas contemporâneas de escravidão'', em que os trabalhadores são submetidos a trabalhos forçados e não são pagos.

As razões disso variam desde fazendeiros mancomunados com autoridades locais corruptas até políticas de reforma agrária ineficazes e um alto nível de desemprego.

Talvez o mais importante seja a crescente pressão para explorar e desenvolver a vasta fronteira agrícola da Amazônia para abastecer mercados estrangeiros com dois itens muito apreciados: madeira e carne.

Na selva a oeste daqui, fazem-se fortunas com a devastação da floresta e a exploração do mogno e outras madeiras nobres de clima tropical, incluindo jatobá e ipê. Os Estados Unidos são os principais importadores do mogno brasileiro, e embora o desmatamento seja permitido apenas em 13 áreas designadas, o Greenpeace, grupo de defesa do meio ambiente, listou quase 100 empresas que, de acordo com a entidade, comercializam mogno ilegal para atender à crescente demanda dos fabricantes americanos de móveis.

Empresas de móveis como a Ethan Allen e L&JG Stickley dizem que seu mogno é comprado apenas de ''fornecedores que nos informam que cumprem com as práticas florestais vigentes'', como declarou a Ethan Allen Interiors Inc. de Danbury, Connecticut. Mas as companhias também reconhecem que não dispõem de monitores independentes e não acreditam que seja sua responsabilidade determinar a origem da madeira importada.


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